Dayana Lucas
casa aberta / Cifra
Dayana Lucas (n. Caracas, 1987; vive e trabalha no Porto) desenvolve uma pesquisa prática na área do desenho com particular interesse na passagem para a escultura, recorrendo a diferentes materiais como betão, madeira ou metal. Trabalha também como designer na área da cultura, tendo colaborado com músicos, artistas plásticos e diversas instituições culturais portuguesas. Foi co-fundadora da Oficina Arara, onde desenvolveu, até 2017, trabalho na área do design e da impressão com diversos meios manuais, e na organização de exposições, workshops e encontros com a comunidade artística do Porto. Colabora desde 2010 com o colectivo SOOPA e em 2019 criou o projeto ORINOCO, dedicado à edição de livros e outras edições de artista.
Entre as diferentes exposições individuais que realizou destacam-se “Um” na Wrong Weather Gallery (2018), Espírito Manual no Museu de Serralves (2018), “Pedra em Flor” no Sismógrafo (2019) e “Negro Secreto” na Galeria Lehmann + Silva (2019). Nos últimos anos participou também em diferentes exposições coletivas em espaços como o CIAJG - Centro Internacional das Artes José de Guimarães (Guimarães, Portugal); Bienal de Arte Contemporânea da Maia (Maia, Portugal); PORTA33 (Funchal, Portugal) e Sesc Pompéia (São Paulo, Brasil).
(Esta residência realizou-se em parceria com o CIAJG e finalizou com uma exposição neste centro)
Era nas vísceras de animais, que os Antigos comunicavam com os Deuses. A palavra para essa arte da decifração era, em latim, “haruspício”, que significa a inspeção das entranhas ou a revelação do que não se dá de imediato. A realidade como abismo, labirinto ou dobra constitui a perceção moderna da nossa existência. O “claro enigma” da linguagem, como lhe chamou Drummond de Andrade.
Entre opacidade e transparência, entre o visível e o invisível, percorrendo as nuances de um caminho de dois extremos, Dayana Lucas (n. em 1987 em Caracas; vive e trabalha no Porto) eleva ao ritual o ato de inscrever, grafar, desenhar. Existe um sentido iniciático no seu gesto, em que o desenho é como uma máquina de ver e de sentir. A invenção de uma linha que não acaba, em Dayana Lucas, problematiza não só o fecho do gesto, mas também os inícios do mesmo, já que a imaginação dá forma a um fio que começa sempre, sem as pontas do princípio e do fim – uma ideal suspensão da morte.
Diante do atual empobrecimento da linguagem, dos signos e mensagens planas, algoritmizáveis, esta é uma exposição que deixa clara a vontade de recuar diante do que já foi dito. Diríamos mesmo, que procura surrealizar. A casa de vidro constitui-se como um centro desta exposição, um ponto nodal (in)decifrável onde habita o enigma. Sinónimo de proteção e de delicadeza em simultâneo, a casa de vidro pode significar estarmos nús em nós mesmos. É onde a artista torna visível a sua fragilidade (a sua força).
O conjunto de trabalhos e intervenções que se apresentam no CIAJG testemunham a passagem do desenho à forma tridimensional, a influência da música e das paisagens solitárias em Dayana Lucas. Quem visita esta exposição pode assim intuir essa trasmutação do desenho em escultura, em casa transparente, sem nenhuma mediação. Nós somos a casa. Não temos telhados de vidro.
parceria com CIAJG
recursos: ferro, vidro, esferovite, soldadura
formato: open house
fotografia & video: Bruno Lança, Bernardo Bordalo
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